APREDENDO A LIÇÃO QUE ENSINAVA

          O palestrante Anthony, 39 anos, ao desembarcar naquela noite, no aeroporto de Tucios, comportava-se de modo introspectivo, pois, ao deixar a aeronave, uma senhora desconhecida, em tom de vidente, lhe havia dito para se cuidar… A esposa, o aguardava no saguão. Beijaram−se e seguiram para o automóvel.
          – O que o perturba? – inquiriu ela, com o veículo já em movimento.
          – Ossos do ofício, Loula. – respondeu, pensativo.
          – Não vejo razão para que os ossos do ofício o incomodem. Afinal, transmitir palavras ajustáveis não deixa ninguém perturbado, a não ser que haja dúvidas no que se prega.
          – Como está você? – perguntou ele.
          – Bem.
          – E as crianças?
          – Estão ótimas.
          Ao chegarem a casa, as crianças já haviam dormido. Loula tratou de preparar-se para deitar, e ele, desfazendo-se das vestes, não tirava do pensamento o que a desconhecida senhora lhe havia dito, ou seja, para se cuidar.
          – Quando viajará novamente? – inquiriu a esposa.
          Olhando-a, ainda pensativo, respondeu:
          – Depois de amanhã. Por quê?
          – Curiosidade.
          O dia havia amanhecido, o tráfego em Tucios estava cada dia mais caótico, e Anthony, ao volante, impaciente, fumava.
          – Senhor Anthony! – escutou chamar.
          Ao olhar em direção, assustou−se, pois, a pessoa que o chamara, uma ex−empregada, era cópia jovial da senhora do avião. Avançando, passou por ela, observando-a. Em seguida disse-lhe que ambos precisavam conversar. Foi então que a jovem, já no interior do automóvel, indagou-lhe para onde estava indo.
          – Para Nab.
          – Estou indo para Oli. – disse ela.
          – Posso levá-la... – e, atirando barro na parede, disse a ela que sua tia ou irmã havia retornado de Lingere, no mesmo voo que ele.
          – É minha tia, senhor Anthony. Falou-me.
          Deu prosseguimento à conversa, pois estava interessante.
          – Imaginei ser ela vidente. – disse ele, astuto.
          Sany sorriu e perguntou:
          – Por que assim imaginou?
          – Porque ela sugeriu que eu me cuidasse.
         Sany, ao ouvir a fala do senhor Anthony, empalideceu e o indagou:
          – Disse-lhe isso?
          – Disse-me, Sany, e gostaria de saber o que sua tia sabe, através de você.
          Sany fechou−se e, só momentos antes de descer, quando chegou ao destino, movimentou os lábios.
          – Nada de concreto, senhor Anthony. No entanto, é bom que se cuide. Aqui está ótimo. Agradecida. – desceu do automóvel, bateu a porta e se foi.
          – …?
          Chopes sobre a mesa e, em volta, Anthony e Dal.
          – Estaria Loula traindo-o? – perguntou Dal, um amigo do peito.
          – …
          – Sinceramente, Anthony, associando a sua situação com os seus ensinamentos, tenho mais é que rir. É verdade, amigo. Pois o que você propaga? Trinta e três por cento do tempo dedicados inteiramente ao trabalho, trinta e três por cento dedicados inteiramente à vida pessoal, mais trinta e três por cento dedicados inteiramente ao lazer e um por cento dedicado inteiramente a reflexões. Parco percentual, este último, que daria sustentabilidade aos demais. Pois estudos comprovam que, se uma das partes fosse cuidada com maior afinco, as demais seriam destruídas.
          – Faz sátira com a situação, não é amigo?
          – A mais pura verdade que já ouvi, amigo. A obra e o criador!
          Era noite. Anthony e Loula encontravam−se em seus aposentos.
          – E porque isso agora, Anthony? – quis saber ela.
          – Porque agora estou reconhecendo o quanto tenho sido teórico. Contudo, gostaria de saber da relutância em não querer ir. Ozen é lindo, irá gostar.
          – As crianças, Anthony.
          – Temos uma babá de extrema confiança, Loula.
          A esposa, após alguns segundos de meditação, se manifestou:
          – Não destrua as coisas, Anthony.
          – Não destruirei, Loula.
          Os alto−falantes do aeroporto de Tucios anunciavam a última chamada do voo com destino a Ozen.
          – Vamos nessa. – disse Loula, feliz.
          – Vamos sim. Ozen é lindo, irá gostar.


ILUSÃO OU FATO?