Naquele feriado nacional de terça−feira, o dia, em Cassandras, havia amanhecido nublado e, na sempre deserta praia de Psiri, as ondas do mar batiam suavemente sobre as pedras.
O par, Neleno, 53 anos, e Talha, 50 anos, presenças ali registradas, conversavam, caminhando lado a lado sobre as alvas areias. Neleno havia dito que, ao longo de vinte e cinco anos de banco, ele e a companheira nunca estiveram tão próximos, nem mesmo, conversaram nada além do que assuntos de expediente bancário.
– Senhor Neleno! O todo poderoso gerente da agência… – disse Talha, maliciosa.
– Senhora Talha! A toda poderosa tesoureira da agência… – retribuiu Neleno de igual forma.
Olharam−se.
– E o casamento? – perguntou Talha.
– Um fracasso. E o seu?
– Um fracasso também.
Um ser marinho, cujas ondas do mar o entregaram à própria sorte, fez com que fossem interrompidos os passos de ambos. Por alguns instantes pararam para observar o bicho.
– Um esposo sempre ébrio. – confessou Talha.
– Uma esposa distante. – conversou Neleno.
– E os filhos? – perguntou Talha, voltando a caminhar.
– O mais próximo encontra−se a uma distância de oito mil quilômetros de mim.
– E o meu único filho, a treze mil quilômetros. – disse ela.
Após contemplar o mar, Neleno perguntou−lhe o que ela pensava a respeito da idade deles.
– O que têm elas?
– Não acha que causará indignação?
– Onde a indignação não habita?
Provocado por ele, estancaram os passos perguntando Neleno quantos anos de vida ainda restava−lhes pela frente?
– Vinte e cinco anos seriam suficientes. – respondeu Talha em alusão aos vinte e cinco anos de banco.
Olharam−se, sorriram e caminharam em direção a uma árvore. Sentaram−se debaixo dela e, pensativos, ficaram observando as gaivotas beijando as águas.
– Quando foi que o pensamento brotou em mente? – quis saber Neleno.
– Que pensamento?
– … Que pensamento…
– Intensificando a cada depósito escuso. – respondeu ela.
– Há bastante tempo.
– Há bastante tempo. – concordou.
Neleno disse que visualizava Lorandi. A identidade era destruída na portaria, e o poder de barganha é que determinava a estadia. Computador e Bolsa de Valores combinavam. Portanto, o dinheiro não envelheceria.
– …
Trocaram reprimidas carícias. Momentos depois, Talha quis saber quando seria.
– Nesta próxima sexta−feira. Teremos o sábado e o domingo a nosso favor.
Talha, ao ouvi−lo, ficou pensativa. Recorreu aos cigarros e lhe ofereceu.
– … Algum problema? – indagou Neleno ascendendo o cigarro.
– Teide. Pois é de praxe eu contar os maços das cédulas e Teide depositá−los no cofre, acionando o fechamento de segurança.
– Teide não irá trabalhar nesta sexta−feira. Assim que deixarmos a agência, poderemos nos encontrar no Parque Ankar e seguiremos para Lorandi. São vinte horas de carro.
– Ufa! – reagiu Talha.
– O que há?
– O corpo não deixou de gelar.
– Podemos embrulhar a conversa e atirá−la no lixo. − sugeriu Neleno.
– Não tem mais volta. – disse ela.
– Dinheiro sujo, ninguém ousará nos molestar.
– É verdade. – concordou Talha.
Às oito horas da manhã de sexta−feira, Talha entrou na agência arrastando uma mala com roldanas.
– Irá viajar, senhora Talha? − perguntou o segurança.
– Após o expediente.
A importância expressiva de numerário que era semestralmente depositada, a qual os dois iriam surrupiar, não tinha horário determinado para chegar. Mas, às quinze horas, chegou. Três seguranças, carregando pesados malotes, atravessaram a agência e seguiram para a tesouraria. O quarto vigilante, por sua vez, em posse de um documento, dirigiu−se ao gerente, o senhor Neleno, o qual, como de praxe, ficou aguardando pelo telefonema da tesouraria. Minutos depois, Talha informou o número de maços recebidos.
Às dezessete horas e quarenta e cinco minutos, Talha deixou a agência arrastando a mala com roldanas.
– Desejo−lhe uma boa viagem, senhora! – disse o segurança.
– Agradecida.
Momentos depois, Neleno fechou a agência e se dirigiu para o Parque Ankar.
ILUSÃO OU FATO?