É possível se dizer que todas as histórias vividas ou escritas até então são cópias de histórias matrizes guardadas na biblioteca do tempo?
Então vejo Eteu, 22 anos. Fugia de hostilidades ao vencer a divisa. Imaginou que tudo seria diferente. No entanto, capturado, era mais um, no meio de dezenas de outros enfileirados e parados, porém marchando. Havia horas do incessante e exaustivo treino. Não mais desgastante porque, próximo, havia um pelotão de mulheres executando o mesmo martírio. Observava tudo, porém ignorava a finalidade daquilo. Um apito soou, interromperam o frenético movimento e dispersaram. Eteu retornou para a tenda do homem que o acolheu.
– Estou fedendo. Quando receberei fardamento? − questionou ele.
O homem que o acolheu, Hênio, um dos cozinheiros do acampamento, esfolava gambá, a refeição dos entusiasmados guerreiros, replicou que, até onde sabia, ali não era nenhum exército da salvação. No entanto, vez por outra, havia distribuição de roupas usadas de origem ignorada. Podia servir-se.
– … Você não concluiu como veio parar aqui. – conversou Hênio.
– Vagava pela floresta quando fui pego e “convencido” de vir para cá.
– Não por vontade própria, portanto.
– Não… No treino, atuei conforme você me orientou. − disse Eteu.
– Assim orientei-lhe porque simpatizei com você. E também porque você me dissera que era marceneiro com habilidade ímpar na confecção de mesas de snooker.
– E você sorriu. Por que sorriu?
– Porque o mundo é uma mesa de snooker.
Eteu, olhando para o cozinheiro esfolando mais um animal, quis saber qual a relação entre a habilidade do ofício com um fraco desempenho na marcha.
– Nenhuma. Recurso confidenciado aos amigos para não tornar-se bucha de canhão.
– Treinam para se tornarem bucha de canhão? − perguntou Eteu horrorizado.
– Perfeitamente.
Atônito, depositou as vistas nos tidos futuros buchas de canhão, zanzando no acampamento, e perguntou o que aconteceria com os que encenavam fraco desempenho.
– O caminhão que recruta anêmicos para trabalhar na pedreira, a qualquer momento passará…
– Para trabalhar na pedreira quebrando pedras?!
– Destinadas à construção de alvenarias das pomposas moradias dos líderes das diversas oportunistas bandeiras que enfestavam a floresta. No entanto, sendo indicado, não pense duas vezes. Será sua chance de escapar disso aqui. E, uma vez na floresta, seja mais atento, caminhe igual um lince.
Entregou-lhe um papel.
– Mera reflexão. – disse.
Eteu olhou para o desenho.
Fora numa manhã quando o treino acontecia. Um caminhão caindo aos pedaços adentrou o acampamento e parou. Minutos depois, Eteu, indicado para quebrar pedras, prontamente subiu. Aproveitou que um contrariado anêmico relutava em subir, e olhou na direção da tenda que permanecera por alguns dias. Acenou para Hênio. Retribuiu com as mãos unidas e erguidas.
Os anêmicos recrutados, que seguiam para a pedreira, sofriam há dias com os ingratos solavancos do caminhão trafegando pela péssima estrada. Era noite. Eteu havia simpatizado com uma futura quebra-pedra, disse para ela que, na primeira oportunidade, saltaria.
– Você é louco, a floresta é breu. − retrucou Íngria.
– Não deixarei escapar essa reserva de madeira. − confidenciou Eteu.
Em razão de mais um obstáculo projetado, a lenta velocidade do caminhão foi reduzida mais ainda. Eteu pulou e Íngria pulou em seguida.
– Vamos… Vamos! – convidou Eteu.
Enfiaram-se na floresta.
Entravam na terceira noite de atenta caminhada no breu da arisca mata fechada, quando avistaram luzes. Eteu, entusiasmado, vibrou:
– Ibrale!
Íngria replicou que nunca tinha ouvido falar. Eteu murmurou que diziam que não existia. Mas existia sim. Uma cidade camuflada. A cidade dos senhores de tudo.
– Não quero ser escrava sexual. – resmungou Íngria.
– Nao será.
Eteu, vidrado com o cenário, ajeitou-se e pediu para que ela fizesse o mesmo. Caminharam de encontro a Ibrale. Percorreram as encantadoras ruas e adentraram a taberna. Nobres senhores jogavam xadrez e cartas… Eteu, ao perceber que seriam hostilizados pelos serviçais, perguntou, em alta voz, quem se prestaria a financiá-lo. Olhares interrogativos foram lançados sobre eles.
–… O que faz, rapaz? − perguntou um dos senhores.
– Construo mesa de snooker como ninguém, senhor. – replicou.
Escutou de um dos senhores que disponibilizaria do material necessário. Teriam alojamento e comida e, em troca, vinte mesas de snooker fornecidas por mês. Eteu sorriu com a proposta. Agradeceu e contrapôs dez mesas por mês, ao preço dele. Quanto ao material disponibilizado, restituiria o valor com juros na primeira encomenda. Com o silêncio, um senhor de óculos ergueu a mão.
– Contrato fechado, rapaz.
Deixaram a taberna felizes e, com algo no estômago ofertado pelo contratante. Íngria questionou:
– Dormiremos no relento por mais alguns dias, mas comeriam o quê?
Eteu retrucou que dormiriam no relento por mais alguns dias e comeriam por bem mais dias o que a floresta tinha lhes oferecido até então. Porém, em breve, almoçariam todos os dias num restaurante pomposo. Apontou para uma luxuosa casa de comida.
Anos e anos depois, Eteu, no seu requintado aposento, tinha em mãos o desenho ofertado por Hênio.
– O que está lendo? − inquiriu Íngria ao adentrar.
Entregou-lhe o papel.
– … O desenho do Hênio! − exclamou ela.
Reflexivo, Eteu disse:
– Quando passamos a almoçar diariamente naquele restaurante, conforme lhe prometi, soube que Hênio havia falecido. Seria meu auxiliar no que fosse, mas seria. O desenho retrata uma mesa de snooker acomodada sobre o globo terrestre: tacos, gizes, bolas e caçapas…
Entravam na terceira noite de atenta caminhada no breu da arisca mata fechada, quando avistaram luzes. Eteu, entusiasmado, vibrou:
– Ibrale!
Íngria replicou que nunca tinha ouvido falar. Eteu murmurou que diziam que não existia. Mas existia sim. Uma cidade camuflada. A cidade dos senhores de tudo.
– Não quero ser escrava sexual. – resmungou Íngria.
– Nao será.
Eteu, vidrado com o cenário, ajeitou-se e pediu para que ela fizesse o mesmo. Caminharam de encontro a Ibrale. Percorreram as encantadoras ruas e adentraram a taberna. Nobres senhores jogavam xadrez e cartas… Eteu, ao perceber que seriam hostilizados pelos serviçais, perguntou, em alta voz, quem se prestaria a financiá-lo. Olhares interrogativos foram lançados sobre eles.
–… O que faz, rapaz? − perguntou um dos senhores.
– Construo mesa de snooker como ninguém, senhor. – replicou.
Escutou de um dos senhores que disponibilizaria do material necessário. Teriam alojamento e comida e, em troca, vinte mesas de snooker fornecidas por mês. Eteu sorriu com a proposta. Agradeceu e contrapôs dez mesas por mês, ao preço dele. Quanto ao material disponibilizado, restituiria o valor com juros na primeira encomenda. Com o silêncio, um senhor de óculos ergueu a mão.
– Contrato fechado, rapaz.
Deixaram a taberna felizes e, com algo no estômago ofertado pelo contratante. Íngria questionou:
– Dormiremos no relento por mais alguns dias, mas comeriam o quê?
Eteu retrucou que dormiriam no relento por mais alguns dias e comeriam por bem mais dias o que a floresta tinha lhes oferecido até então. Porém, em breve, almoçariam todos os dias num restaurante pomposo. Apontou para uma luxuosa casa de comida.
Anos e anos depois, Eteu, no seu requintado aposento, tinha em mãos o desenho ofertado por Hênio.
– O que está lendo? − inquiriu Íngria ao adentrar.
Entregou-lhe o papel.
– … O desenho do Hênio! − exclamou ela.
Reflexivo, Eteu disse:
– Quando passamos a almoçar diariamente naquele restaurante, conforme lhe prometi, soube que Hênio havia falecido. Seria meu auxiliar no que fosse, mas seria. O desenho retrata uma mesa de snooker acomodada sobre o globo terrestre: tacos, gizes, bolas e caçapas…
ILUSÃO OU FATO?