O ILUSIONISTA

O boa-pinta, Jerry Branpan, adentrou-se na luxuosa casa noturna. A esnobe Anchieta, ao vê-lo, assim, imediatamente, reagiu:


 
          – Meu Deus! Que homem é aquele, meninas?!
          Uma das amigas, após fitá-lo, disse que não era para o seu bico.
          – O quê?! Para o meu bico não são os tipinhos que vocês me apresentam. Irei até ele, e logo estará à nossa mesa.
          Dito e feito. Minutos depois, o galã Jerry Branpan sentava-se à mesa em que se encontravam.
          – É daqui mesmo? – inquiriu uma delas.
          – Sim! – respondeu Jerry Branpan vaidoso.
          – Solteiro? – perguntou-lhe Anchieta, com olhar apaixonado.
          – Sim, também!
          – E qual o motivo do desperdício? – quis graciosamente saber uma outra.
          Jerry explicou que ainda não havia encontrado a pessoa ideal. Culpa dele mesmo, pois apresentava ser uma coisa, mas na verdade era outra.
          – Como assim?! – pergunta dosada de extrema malícia.
          Jerry rindo:
          – Calma, garotas. Não me expressei bem, ou não permitiram que eu completasse o raciocínio. Sou dado, porém, extremamente exigente. Passo dos trinta. Encontro-me, portanto, numa idade de pensar num relacionamento sério. Mas qual a minha preocupação em relação? Que os pimpolhos por vir, nasçam semelhante ao papai aqui.
          Elas riram.
          – Convencido!
          – O convencido aqui fala sério, meninas. Procuro um complemento perfeito e ideal para que, assim, os pimpolhos não venham a me decepcionar.
          A pedido do próprio, o garçom lhes serviu o melhor uísque da casa. Disse uma delas, no ínterim, que a condessa Anchieta era o complemento perfeito e ideal que ele procurava.
          – Condessa? – perguntou ele.
          – Condessa, Sr. Jerry!
          Ele, após fitá-la, disse que não imaginava ser a cidade tão imensa. E concordou com a ideia sugerida, sob grifo, no entanto, das amigas de Anchieta, as quais não sentiram firmeza nas palavras. Mas Anchieta o convidou à pista de dança. Dançaram juntos e separados, abraçaram-se, beijaram-se e trocaram carícias.

          Confessou Anchieta à sua genitora:
          – Estou apaixonada, mamãe!
          – Como é ele, filha?!
          – Lindo! Lindo! E lindo!
          – Como você sempre sonhou?
          – Como sempre sonhei, mamãe!
          – E ele revelou estar apaixonado por você?
          – Quem não se apaixona pela “gatíssima”, aqui, mamãe?

          Anchieta já falava com as amigas sobre o casamento.
          – Se Jerry é milionário, eu também sou, amigas. Se é um príncipe encantado, sou a “bela adormecida”. Então, não vejo motivo para que vocês me olhem com descrença, ao escutar o anúncio de nosso casamento.
          – Ama-o mesmo, Anchi? Ou só pretende exibi-lo?
          – A raiz do amor é a beleza física, amiga! Nunca percebeu que todos me amam?
          – E ele a ama, Anchi?
          – Nossa!
          – É mesmo milionário?
          – Reside numa mansão que vocês precisam conhecer.
          – Já a visitou? Já esteve com os familiares dele?
          Anchieta, pensativa, coçou levemente a cabeça.
          Na manhã do dia seguinte, resolveu colocar a limpo a persistente “coceirinha” da cabeça.
          – O Sr. Jerry Branpan se encontra, senhorita. – afirmou o compenetrado segurança.
          – Diga-o que se trata da condessa Anchieta, senhor.
          Anchieta aguardou pelas instruções de praxe e, momentos depois, acompanhada por outro segurança, caminhava por um florido jardim, mansão adentro.
          – O Sr. Jerry Branpan é um ilusionista, senhorita. – conversou o segurança.
          – Como assim?
          Mas não houve tempo para obter resposta, pois um homem, às avessas de um príncipe encantando, surgiu à frente deles.
          – O Sr. Jerry Branpan, senhorita. – disse-lhe o segurança, afastando-se.
          Ela, então boquiaberta, encarando a triste figura que havia surgido reagiu:
          – Que brincadeira é essa?!
          – Não se trata de brincadeira, amada. – replicou Jerry Branpan.
          – Você é um ilusionista?!
          – Sim. Sou.
          – Não é a pessoa que até ontem eu conhecia?
          – Sou a pessoa que você agora conhece.
          – Meu Deus… – horrorizada, abandonou-o, deixando a mansão às pressas.
          Dias depois, Anchieta, recuperada do trauma, então à mesa de um fino restaurante, falando com as amigas sobre uma viagem que faria, foi subitamente interceptada por uma delas.
          – Não é possível…
          O galã Jerry Branpan, acompanhado por uma encantadora mulher, adentrava.
          – Cafajeste… – balbuciou Anchieta, olhando-o, severamente.
          – Coitada da criatura! Desconhece toda uma verdade. – avaliou outra amiga.
          Mas uma elegante senhora, a qual havia escutado a conversa, deixou a mesa e, aproximando-se da mesa delas, confidenciou:
          – Conheço o encantador Sr. Jerry Branpan. Ele é um ilusionista. Usa deste artifício para afastar indesejáveis. Um idiota na verdade. Procura a forma perfeita e ideal para não comprometer a estética física dos pimpolhos por vir, esquecendo-se de que é acentuadamente manco: sapatos com almofadas que o digam.
          Anchieta, ao ouvir, tornou-se rubra, pensativa e desfeita. Recorreu ao uísque, ficando as amigas olhando-a.

 
ILUSÃO OU FATO?