Para não pagar a apólice do seguro, Carolyne Revs vai a júri na qualidade de cúmplice do bandido. Porém, o público, cutucado, desperta e reage exigindo sua inocência.
Cidade de Brans, 1946.
Seis horas antes do início do julgamento, Carolyne Revs, 28 anos, acusada de cumplicidade, já se encontrava no salão do júri. Estava sozinha e isolada, acomodada por trás de um parcial tapume.
Iniciado o julgamento, Carolyne, inocente, dirigiu-se ao juiz, dizendo-lhe que o Estado de Brands pecava contra ela, pois há seis horas tinha sido retirada à força de casa e, incomunicável, fora ali colocada.
– …
O promotor federal dirigiu-se a ela e perguntou-lhe se confirmava ter sido namorada secreta do fora da lei, Mac Marlon, 30 anos.
– Confirmo, senhor.
– Como o conheceu?
– À margem do lago Nuar, situado a três léguas daqui, quando dava de comer aos cisnes.
Disse o promotor federal:
– Nas suas anotações… "Quando não tínhamos mais assunto para conversar em torno do lago e dos cisnes, ele me levou para casa. Revelou-me, durante o chá que lhe ofereci, ser Bob Wilson. Percebendo que eu parecia receosa, pediu-me que ficasse tranquila, pois jamais me faria mal... A vida já me havia feito... Quanto a Bob Wilson, prometeu-me que jamais estaria no interior de minha residência, promessa, inclusive, que cumpriu."
– Isso.
– Passou a frequentar a sua residência?
– Sim.
– Cúmplice, então?
– …
– Diga-nos sobre a apólice do seguro. – pediu−lhe.
Ela contou que Mac Marlon sabia que, a qualquer momento, poderia ser morto, sob o crivo impiedoso das balas da lei, e aquilo o preocupava, uma vez que ignorava até quando o mundo seria gentil com ela. Então, certo dia, disse a ela que havia feito um seguro de vida. Caso morresse, como previa, não ficaria desamparada: bastaria saber se cuidar. Ao ser abatido, com prévia, ela esteve na seguradora para dar entrada no resgate da apólice, dizendo-lhe o senhor Frank que, além do seguro ter sido feito em outro estado, Mac Marlon havia ludibriado. Não se sabia que ele era o sanguinário fora da lei, Bob Wilson. Afirmando não ter culpa, o senhor Frank concordou e prometeu que, mesmo assim, daria entrada na papelada. Conversando posteriormente com o senhor Robert a respeito do assunto, disse-lhe que as coisas não funcionavam daquela forma. Mac Marlon, ao preencher a papelada, havia, sem dúvidas, assinalado que desempenhava atividade de risco. É verdade que assaltante de banco não era uma atividade lícita, reconhecia. Mas, por outro lado, havia mineradoras trabalhando irregularmente em todo o país, e estavam asseguradas. Se negassem o pagamento sob aquele argumento, que ele fosse procurado. Então, no aguardo da promessa do senhor Frank, fora, como já havia afirmado, sido retirada à força de sua casa e, incomunicável, ali colocada.
O advogado que a defendia, não quis se manifestar. O juiz conclamou a todos para as considerações finais...
Apossado de volumoso maço de jornais, o promotor federal dirigiu-se ao centro do salão e indagou aos presentes se eles faziam ideia do número de pessoas vítimas das atrocidades do Mac Marlon, ali registrado.
– …
Dirigiu−se a Carolyne Revs, e perguntou−lhe por quantos anos convivera com o fora da lei, Mac Marlon.
– Por oito anos, senhor.
Voltando-se para o público, disse que aqueles jornais registravam quarenta e um assassinatos, praticados por Mac Marlon, números que poderiam ser amenizados, caso a senhora Carolyne Revs tivesse saído de seu aconchego e o denunciado à Justiça.
– Uma cúmplice, portanto, senhores. – explanou – E que pretende desfrutar de uma apólice de seguro custeada pelo derramamento de sangue. O estado de Brands silencia quanto à pena capital a cúmplices. Mas refletiremos! Pois esta condenação será um glorioso marco para que todo o país penalize adequadamente o não menos cruel crime de omissão.
O advogado que a defendia, permaneceu indiferente. Pediu, portanto, o juiz aos jurados que se manifestassem sobre a sentença.
Eis que, no momento de o primeiro jurado declinar seu voto, a porta existente ao fundo do salão foi violentamente aberta e invadida pelo vendedor de rações do Lago Nuar. Uma imensa e ainda fresca pintura, mostrava Carolyne Revs numa cadeira de rodas, pernas amputadas, dando de comer aos cisnes.
– Na infância! – gritou ele.
– … Desgraçados! – reagiram.
O bastante. O público levantou-se e, acercando o juiz e toda aquela corja, exigiu que os jurados a inocentassem.
A seguradora, pressionada, pagou a apólice.
... Uma história difícil de entender.
ILUSÃO OU FATO?