O MAL DA ANSIEDADE

Ansiosa pela necessidade imediata da colheita da safra, a dedicada plantação de feijão havia misteriosamente se transformado num viçoso maconhal.



          Abrigados na casa de taipa, iluminada pela luz de candeeiro, onde acompanhavam semanalmente o desenvolvimento da lavoura, os pais de Judy, com o susto do inexplicável acontecimento, abatidos, repousavam nos braços da lerdeza.
          – Como isso aconteceu? − pergunta o pai.
          – Não sei! Nãos sei! − responde a mãe.
          – Faltavam apenas dias para a colheita.
          – Oh, filho!
          – Quem teria feito isso?
          – Procuro associar nomes, mas não consigo.
          – Você viu o que vi?
          – A Judy também viu. Ficou horrorizada. Percorreu todo o campo: pura maconha.
          – … Devemos fugir…
          – Seria pior, filho. Quem nos acolheria? As nossas fotos seriam espalhadas por todo o país. Haveria prêmio pela nossa captura. A humilhação e o sofrimento físico seriam mais desastrosos do que o de enfrentarmos a forca. Seríamos arrastados de volta ao plantio sob terríveis espancamentos.
          –… Incendiá-la, então?
          – Também não, querido. As chamas não consumiriam em seis horas toda a plantação. Horas que restam para o dia raiar. Além do mais, o "fedozão" se espalharia por toda região e eles estariam aqui em nossa cola.
          – O que faremos então?
          – Pensei em cavar um buraco para nos esconder. Seria asneira. Como retomaríamos a vida?
          – O que a Judy diz?
          – O que diz? − responde a inconsolada mãe.
          – Onde se encontra?
          – No quarto, atirada na cama. Dizia-me que viajaríamos para a Europa. Conheceríamos a América. Visitaríamos os Alpes Suíços, as muralhas da China… No entanto, o que agora a pobrezinha deseja é ser pendurada na Árvore Turquesa. Evitei iludi-la. Repliquei que eles não dão opção de escolha.
          O pai retira o celular do bolso da calça.
          – Pra quem vai ligar?
          − … Pro Aroldo.
          – Será que nos ajudará?
          – Tentarei.
          A ligação é completada.
          – É o Ivan, Aroldo.
          – Como você está?
          – Péssimo. Desculpe pelo horário… Recorda do meu fascínio pela agricultura?
          – Contou-me que adquiriram hectares de terras para se dedicarem ao plantio de feijão.
          – Transformou-se num maconhal.
          – No quê?
          – Transformou-se num maconhal.
          Escuta estrondosa gargalhada.
          – … Por favor, Ivan, conte-me outra piada. Aposto que se lembrou do Noronha. Consumiria em minutos.
          – Ligaria a essa hora da noite para contar piada?
          – Fala sério?
          – Poucas horas nos restam para encontrarmos uma solução. Podemos ser enforcados. A Judy, inclusive, já fez a escolha. Deseja ser enforcada na Árvore Turquesa. Uma espécie rara que temos aqui.
          – Meu Deus! Então é verdade?
          – Não envolveria o nome de minha filha de tal maneira.
          − … Como isso aconteceu?
          – Não sabemos.
          – … Usaram agrotóxico?
          – Inseticida.
          – Apenas um chute, verifique o inseticida que usaram talvez tenha causado tal reação.
          O depósito de material ficava ao lado. Protegendo as narinas com um pano, como se o “fedozão” fosse mortal, atingem o depósito. Recolhem o recipiente e retornam. Com ajuda do Google passam a pesquisar os nomes dos produtos químicos contidos na fórmula do inseticida que usaram. Pesquisando, a mãe pega no sono. O pai continua com a pesquisa. Depois de muito pesquisar, percebe que o dia começava a clarear… Judy escuta gritos convidativos. Gritos de entusiasmo. Sai e avista a viçosa plantação de feijão esplêndida como antes, e os pais pulando de alegria.
          – Aproxime-se, Judy!
          A ansiosa Judy leva as mãos ao rosto.
          – Que pesadelo, meu Deus!
 
 
ILUSÃO OU FATO?