Uma pessoa manifestou desejo de falar com Deborah. Foi quando a proprietária da loja passou o telefone para ela.
– … Casio… – ouviu.
– Casio?!
Casio lhe disse que precisavam conversar. Só aceitaria recusa ao convite se lhe fosse apresentada uma plausível justificativa. E, se esse fosse o caso, a compreenderia.
– Não há, Casio.
– Fico feliz. Às dezenove horas, o motorista a apanhará para jantarmos no Luart?
Ao desligar, Deborah expressava desnorteada:
– … Nossa…
À mesa do Luart…
– … Meu Deus… – Casio, feliz!
– …! – ela.
Conversou ele:
– O motorista, em dado momento, me disse que teríamos de enfrentar a trepidante Rua Silas. Como não havia alternativa, acatei a sugestão dele e, ao passar na porta da loja a avistei. Ordenei-lhe que parasse, mas ele retrucou, dizendo-me ser impossível, dado ao grande número de automóveis que se encontrava atrás de nosso carro. Sem perder tempo, gravei em meu celular o número do telefone o qual constava na placa da loja...
O garçom serviu-lhes uísque e, se afastou. Casio lhe perguntou se ela estava magoada com ele.
– Silêncio magoa. – confessou.
– Ao retornar, eu a procurei, mas, para meu desconforto, você havia se mudado para outro estado. – explicou.
– De fato. Loucura de papai. Mas as coisas não deram certo e acabamos retornando.
– E com você, especialmente, o que aconteceu?
– Não sei, as coisas simplesmente não aconteceram. Trabalho na loja de uma amiga de mamãe.
– Reside com os seus pais?
– Sim.
– Como estão?
– Ótimos.
Casio, a acariciou o rosto e lhe disse:
– Você jamais saiu de meus pensamentos. Nunca me esqueci de nosso bom relacionamento, nem dos sonhos que juntos tivemos.
– Noivo?
A não invisível aliança de noivado, que se encontrava em um dos dedos dele, havia reluzido.
– É verdade. – reconheceu ele – Mas é verdade também que não estamos fazendo nada demais…
Aquele jantar e os contados telefônicos mantidos pelo novo casal já se refletiam no relacionamento entre Casio e a noiva.
– Quem é a rival? – inquiriu a moça numa certa noite.
– Não existe, Noeli.
– Como não existe, Casio? A sua transformação é mais que visível.
Casio, diante da indagação da noiva, mostrou-se pensativo:
– Viu você?! – observou ela.
A tempestiva conversa acontecia na sala de estar do tríplex do senhor Casio. Ela, que saboreava suco, irritada com o silêncio confesso do noivo, ergueu−se, olhou-o profundamente, atirou o copo na parede, apanhou a fina bolsa sobre a mesa e, ao sair, bateu violentamente a porta.
– …
Os pais de Deborah, informados pela filha, sabiam que Casio estava noivo. Mesmo assim, a ideia do almoço partira do pai da garota.
– Deu um salto de gigante. – disse o pai de Deborah, quando todos estavam acomodados na sala.
– Identifiquei-me bem com a informática. – replicou ele.
– … Coisa complicada…
– Trouxe a saudosa horta para o novo lar? – quis saber Casio.
Amante do passatempo, o senhor Medrado sorriu prazeroso e o convidou para ir ao quintal. Deborah, que fora também convidada, os seguiu.
– … Um espetáculo! – contemplou Casio.
Porém, alguém ao telefone desejava falar com o anfitrião que, abrindo os braços, pediu licença e se retirou, ficando Casio e Deborah a sós… Olharam−se. Envolveram-se em beijos e carícias.
O almoço, regado a vinho, transcorreu de modo agradável. Ao terminar, Deborah assumiu as inevitáveis tarefas da cozinha. A mãe, valendo-se do bom relacionamento que sempre tivera com Casio, levou-o ao quarto da filha. Retirou do armário um par de trajes de mergulho e colocou-os sobre a cama.
– Comprou há três anos… – disse ela.
– Meu Deus! Somos apaixonados por mergulho.
– Sua roupa e a dela.
– Incrível isto!
Não satisfeita, retirou uma caixa e a abriu, mostrando−lhe os pertences:
– Este coração partido representa o dela. Assim nos dizia em razão de seu silêncio.
– Eu, senhora…
– Por favor, não exijo explicações… Os recortes de revistas destacam a sua trajetória.
Casio, ao fitar o recorte mais recente, indagou:
– Deborah sabia onde me encontrar?
– Sabia, mas temia ser evitada.
– Jamais!
– Ela o ama, Casio, não a faça sofrer.
ILUSÃO OU FATO?