SÃO TAN TAN

          Graziela e Soraia, comunicando-se, através da internet, falavam sobre a má sorte que vinham atravessando...
          – Já ouviu falar em São Tan Tan, Grazi?
          – Pelo amor de Deus, amiga!
          – Falo sério, Grazi.
          – Ora, Soraia, tenho medo dessas coisas. Além do mais, dizem serem bizarras as prendas impostas. E, uma vez não pagas, o encanto se esvai de modo traumatizante.
          – Receia ter de beber água de esgoto, amiga?
          – Estou fora, Soraia.
          – “O santo é forte” e sensato, Grazi, assim dizem, afinal sacrifício cabal compete à parte interessada, não é verdade?
          – Beberia água de esgoto, Soraia?
          – Só não compactuaria com o demônio, amiga. Compactuados promovem sacrifício do alheio. Vamos fazer uma visitinha, Grazi, iremos à noite. A casa funciona durante as madrugadas.
          Graziela não resistiu à tentação. Eram duas horas da manhã, e estavam abismadas, pois era imenso o número de automóveis ali estacionados.
          – Meu Deus! – reagiu Graziela.
          – Não esperava por isso, amiga.
          – A que horas sairemos daqui?
          Logo em breve, pois, a bem da verdade, a grande maioria dos ocupantes daqueles automóveis ali se encontrava de passagem, efetuando o pagamento do dízimo, que, no caso de São Tan Tan, dízimo, seria em sentido figurado. Isso porque não exigia a décima parte de nada. Mas, sim, independente de valor, do cumprimento mensal de uma oferta... Havia poucas pessoas no salão destinado à consulta e as duas moças, ao se sentarem, presenciaram o inevitável acontecimento. No altar, em tamanho natural, lá estava São Tan Tan, completamente despido.
          – Meu Deus! Parece que está nos olhando. – cochichou Graziela, envergonhada.
          E parecia mesmo, pois a escultura representava não mais que a figura de um louco, de um curioso, encarando as pessoas.
          – Meu Deus! – disse novamente Graziela.
          O ajudante de consulta, convidando−as a adentraram na sala, encarou mais uma vez a escultura do santo que ali também se encontrava, e saudaram a sua ‘mãe’, a qual, após retribuir o cumprimento, orientou−lhes que se dirigissem à mesa e escolhessem uma das prendas expostas sobre ela.
          – São rigorosamente dobradas. – observou ela.
          Escolhidas as prendas, a senhora orientou-lhes que as lessem mentalmente e, por vez, diante do ‘filho’, que balançasse afirmativamente a cabeça, se estivesse de acordo; caso contrário, teria que retornar outro dia. Uma vez o objetivo alcançado, a manutenção da prenda deveria ser mantida, bem como a manutenção do dízimo, o que ficaria a critério do coração de cada uma. Liberadas, Soraia suspirou profundamente, dirigiu−se ao santo e, desdobrou o papel. São Tan Tan, para sorte dela, sugeria consumir diariamente dez gramas de fezes.
          – …? – meditou um pouco, mas, como decidida estava, balançou afirmativamente a cabeça.
          Assim feito, afastou−se, dando lugar a Graziela para que cumprisse o ritual. Papel desdobrado. São Tan Tan, para a sorte dela, recomendava passar todos os dias nas bordas do… ânus um pouco de pimenta.
          – Não é possível, senhor! – reagiu, ao ler.
          Mas, São Tan Tan, cara de louco que nem ele, encarando-a, exigiu a resposta.
          – … Meu Deus!…
          – Vamos, Grazi! Estou com pressa. – disse Soraia.
          – …?!
          Apesar de não gostar da recomendação, balançou afirmativamente a cabeça, recebendo da mãe de São Tan Tan votos de sucesso, extensivos a Soraia. Entraram no carro e partiram em silêncio. 

          Dias se passaram sem se comunicarem. No entanto, o silêncio, foi quebrado em certa noite:
          – Grazi?
          – Diga, amiga!
          – Tudo bem contigo?
          – Tudo bem não, querida, tudo ótimo! Conquistei um emprego, almejado por muitos. 
          – Que legal, amiga!
          – E o que você me conta?
          – Namorando um gato, Grazi! Quanto a emprego, confesso que não esperava por tanto.
          – E quanto àquilo, vem seguindo à risca?
          – Hum, hum… E você?
          – Que todos assim procedessem, amiga.


ILUSÃO OU FATO?