SEPARAÇÃO - DIVÓRCIO

O casal Holara e Delena rebelam-se numa fase não mais apropriada, machucam saudável relação amorosa que implica num tempestuoso divórcio.



          No Hotel Pousada Marte, localizado à margem da Rodovia Trepidante, era possível se ver, a partir das 21:00 horas, a simpática gerente do mencionado estabelecimento acomodada em uma das mesas do refeitório conversando com alguém. Na oportunidade desse lamentável e remoto encontro, conversava com o hóspede, empresário e amigo Holara, 42 anos. A gerente havia dito que era mais fácil haver união sem amor do que separação sem motivo. O divórcio do casal de amigos a deixou entristecida já que desprezavam cegamente o difícil passado vivido por eles. Delena, ganhando a vida numa portinhola, alisando cabelos e ele lavando automóveis. Afora desdobrarem-se nos estudos. Assim, ignorando tal passado, impulsionados por ridículos posicionamentos, atiravam toda uma conquista no lixo.
          – Separação, meu amigo, é um indigesto prato popular. Portanto é preciso saber como digerir. Qual fora o motivo do estopim? Somos amigos. – conversou ela.
          –…
          – Ambos beirando a casa dos quarenta anos de idade, de repente, se veem como adolescentes. Caso estivessem vivendo como outrora, aposto que não se comportariam assim. Que se comportassem. No entanto, exceto com o rompimento do compromisso moral, nada mais perderiam. Mas a questão é dois duros não levantam muro.
Sobre as mesas sempre havia café fresco nas cafeteiras térmicas. Holara serviu a ambos e acenderam um cigarro.
          –… Por que diz isso? − perguntou ele.
          – Por que também tenho conhecimento da ingrisilha que envolvem vocês.
          – O que sugestiona para que a ingrisilha seja desfeita?
          – Mãos no juízo.
          – Reconciliarmos?
          – Por que não?
          – Ofensas machucam mais do que agressão física.
          – Não por experiência, mas agressão física também machuca… Pede-me para que sugestione como desfazer da ingrisilha. Mãos no juízo não agradou. Então, gostaria de que o segredo químico que você guarda consigo a sete chaves o qual lhes permitiram disputar mercado com gigantes concorrentes pertencesse a ela.
          – De coração?
          – Como também gostaria de que o terreno pertencente a Delena, adquirido de herança, onde, por ironia, a velha fábrica encontra-se instalada, pertencesse a você. Submissos andariam nos trilhos.
          – A favor da submissão?
          – Você não revela o segredo para ela. Delena, por sua vez, não cede o terreno para você. Um tesa de um lado. O da outra extremidade prática o mesmo. A corda não suportará e arrebentará, e os estúpidos tombarão de costas, inclusive sobre dependentes inocentes… Ontem passei pela porta da fábrica e o portão estava aberto. Havia na faixa uma espécie de oração. Um apelo para que vocês se reconciliassem. Quantos empregados a fábrica possui?
          – 85.
          –… Por que se odeiam?
          Holara consultou o relógio e disse que iria se recolher. Na manhã do dia seguinte teriam audiência.
          – Reflita equilibradamente com a cabeça acomodada no confortável travesseiro que o hotel oferece, amigo. Na possibilidade de a Delena ficar com a fábrica, franqueie, ao menos, a fórmula química para que não tenhamos mais um imóvel abandonado motivado pela inflexibilidade. – pediu ela.
          Holara desejou-lhe ótima noite e se retirou. No quarto, atendeu um telefonema. O advogado disse que havia mais uma particularidade. A empresa possuía pesado passivo trabalhista. Contando a partir da data da assinatura do divórcio, teriam cinco anos de compromisso com tudo até então. Caso houvesse demissão coletiva ou fechamento da empresa, o ônus do ínterim seria de responsabilidade de ambos.
          – Seria bom que vocês negociassem o trunfo da derrota do então inimigo, senhor  Holara.  O colega que representa a senhora Delena concordou comigo e conversou com ela. Ou a senhora Delena disponibiliza a venda do terreno para o senhor ou o senhor negocia com ela o segredo que possuiu. Caso isso não aconteça, a birra acabará de modo trágico. Advogo há quarenta anos sei o que estou dizendo.
          – Ela se disponibiliza vender o terreno?
          – O colega disse-me que está irredutível.
          – O mesmo estou.
          Ainda é possível se ver à margem da Rodovia Trepidante o hotel em que a simpática gerente trabalhou. A portinhola onde Delena alisava cabelo. O ensaio de uma praça onde Holara lavava automóveis bem como a edificação de uma fábrica em ruína. Qual das partes interessadas pela fábrica que o juiz atendeu? Não importa. Holara e Delena, irredutíveis, abandonaram o município seguindo caminhos opostos.



ILUSÃO OU FATO?