RECORRENDO A OUTRA DIMENSÃO

− Tia, a anunciada reunião estava para acontecer e, sem entrar em detalhes, prometia ser a reunião mais importante de todos os tempos.
− Imaginação, Milena?
− ...
− Quem se reuniria, criatura?
− O grupo dos sete, tia.
− O que discutiriam?
− Diziam que efetivariam o bem−estar na Terra.
− Imagino.
− Não diga isso ironicamente, tia, porque parecia que estavam empenhados.
− Continue, Milena.
– A notícia da inédita reunião já havia sido divulgada. Então, quando o agente requisitado comparece à sede onde o evento aconteceria, havia centenas de jornalistas. Ao ser indagado sobre os pormenores do tema, diz que a fundo desconhecia. No entanto, havia uma palhinha: tratariam do estabelecimento da paz na terra.
– … Tratariam do estabelecimento da paz na terra.
– Formalidades vencidas, as portas do luxuoso gabinete são fechadas e se acomodam. O senhor- mor abre a reunião ressaltando as qualidades do agente requisitado: habilidoso e da paz. O que estava acontecendo naquele momento, acrescenta, era o resultado de longas conversas mantidas entre aqueles representantes das nações. Orgulho nascido do seguinte princípio: era a história. E, se era a história, pretendiam permanecer na história como os homens que solucionaram o problema da história. História repleta de bêbado, de puxa cobertor e de muita tralha encorpada de político. Ou dariam um basta definitivamente naquilo ou, a qualquer momento, a humanidade conheceria a química e a física injuriadas e não assanhadas como já havia ocorrido. Não era o que desejavam para as gerações futuras. Por outro lado, a reencarnação e o personagem Jesus Cristo eram fatos incontestáveis. Então, qual seria a missão reservada para ele? Viajaria para outra dimensão e solicitaria a Cristo o seu retorno. Na impossibilidade, dialogaria com os dirigentes daquela dimensão para que regulamentassem a reencarnação.
− Regulamentar a reencarnação, Milena?
− Qual é a ideia da reencarnação, tia? Tão logo se nasce já tem um penoso grudando com o propósito de ... aperfeiçoar a vida que viveu.
−… Continue, Milena…
− A senhora vai entender, tia. Estavam sugerindo a regulamentação da reencarnação porque estávamos precisando de benévolos. Para que a vida na Terra adquirisse novos contornos… Era um projeto arrojado, tia… Continuando, diz que, caso Jesus Cristo aceitasse a proposta, com o apoio deles, a solução seria imediata. Caso não aceitasse, um resultado positivo da segunda alternativa só seria percebido em dez anos.
− Por que em dez anos, Milena?
− Seria quando se desse o início da germinação das gerações de benévolos, tia. Habitualmente onde a garotada nessa faixa de idade se encontra?
− Na escola.
− Na escola ou nas ruas não é, tia?
− Começo a entender, Milena. Benévolos se entrosando.
− O senhor-mor então expõe como se daria o contato com as autoridades celestiais: seguiria de avião para o Triângulo das Bermudas e logo entraria em outra dimensão… O agente designado, ao ouvir a proposta, medita e concorda. Então, tia, quando a notícia da missão eclode, há estridentes protestos. Como também, tia, imensas procissões de joelhos.
− Glória a Deus, Milena, Jesus de volta.
− O avião dava voltas no Triângulo da Bermudas. De repente o agente designado avista um novo céu. Apaga o cigarro e fica na expectativa. Volta a olhar através da escotilha e avista uma nova terra. Na medida em que o avião ia descendo percebia-se a enorme diferença entre o seu habitat e aquela dimensão: não havia nada, tia. Absolutamente nada, tia. Apenas espíritos zanzando. O avião aterrissa, apanha a maleta de executivo e desembarca. Caminha em qualquer direção porque não há rumo, e pergunta a um espírito pelo paradeiro do senhor Jesus Cristo. Obtém como resposta que estava por ali. Mas ali, tia, era tudo rápido porque eles eram…
− Onipresentes.
− Isso, tia. Eram onipresentes. Então Jesus, imediatamente, se apresenta. Cumprimenta o filho do Homem e passa a explicar o propósito da missão. No entanto, tia, na medida em que o anfitrião vai ouvindo o apelo, balança a cabeça negativamente. Abre um leque de justificativas, tia.
− Quais foram as justificativas de Jesus, Milena?
− Não se identificavam com Ele, tia. Haviam optado por Barrabás. Era considerado “Mané” por ser o dono da casa e não ter um lugar para descansar a cabeça. Teve sede e lhe ofereceram vinagre.
− Estava magoado.
− Terrivelmente, tia. O agente requisitado não insiste e pergunta quem era o responsável pela reencarnação. Jesus responde que ali não havia controle de nada. Explica a Jesus o motivo da pergunta. O Mestre sugere nomes que poderiam ajudá−lo: Maria, Martha, Madalena, João e José de Arimateia. Pedro também era um bom nome. Ao dizer desaparece e os seis mencionados surgem. O agente requisitado repete o propósito da visita. Acham a ideia interessante e Maria explica o que acontecia: os espíritos imundos… Espíritos cínicos, tia… Que geralmente ficavam de olho na terra. Então, quando uma vida estava para nascer, imediatamente desciam. O agente designado pede para que regulamentem aquilo. Solicita para que, a partir daquele momento, só fosse permitido descer pérola. José de Arimateia medita e diz que seria possível… Mas, tia, Jesus era fantástico. Reaparece e diz que colaboraria. A comissão sugerida por Ele fica emocionada. Acordo firmado. O agente requisitado abre a pasta, retira um documento e pede para que assinem. Assinam com o maior prazer, tia.
−… Que maravilha, Milena. Conheceríamos o paraíso…
− Conheceríamos o paraíso, tia.
− Vou acender uma vela, Milena.
− Eu também, tia.


ILUSÃO OU FATO?