– Animada com a ideia do livro, Milena?
– Animadíssima, tia. Permaneci até as tantas da madrugada organizando os textos.
– Já definiu o título?
– “Como também enriquecer”, tia.
– De onde extraiu a ideia, Milena?
– Dias atrás, estando eu na Livraria do Senhor Barrudo, escutei do próprio, em prosa, a um desconhecido dizer que os títulos mais vendidos eram de autoajuda e de fórmulas sugestivas de como enriquecer. Por coincidência, topei com a prima de “Touro Bundão”. Alva. Quando então brotou em mente a ideia.
– O enriquecimento de “Touro Bundão” é impressionante, Milena. Se bem que é oriundo de uma família de comerciantes.
– De fato, tia. Pesquisei tim-tim por tim-tim sobre sua ascensão.
–… Do nosso município para a capital, da capital para a América…
– Reside atualmente na Califórnia, tia. De onde administra os negócios presentes em várias partes do mundo. Forte que nem um touro. Mede mais de dois metros de altura, de um sopapo desmancha dez de uma só vez. Porém, detesta confusão. Acho isso bonito, tia. As pessoas é que são filhas da puta: Censuram-no, batizando-o de “Touro Bundão”, por detestar confusão. Que Deus o ajude a continuar prosperando, não é, tia?
– Assim seja, Milena.
– Bem, tia, retornando à introdutória de nossa prosa, Alzinarte ou “Touro Bundão”, depois de ter sido dispensado da loja do tio, onde trabalhava como vendedor, passou a comercializar moedas antigas. Preservando seu bom caráter, não omitia esclarecer que eram falsas…
– É o que me intriga, Milena. Clientes interessados na compra de moedas antigas e falsificadas?!
– Todos sabem que “Touro Bundão” não é bom de lábia, tia. Mas as vendia com a maior facilidade. Das moedas antigas nacionais, empenhou-se cunhar moedas internacionais. Atirava a velha tenda no fundo da precária caminhonete e saía, municípios afora, comercializando-as. Quando retornava, segundo apurei, era com a maleta cheia de dinheiro. No entanto, fora denunciado e preso.
– Oportunidade em que conheceu Magnólia.
– Isso, tia.
– Cujos pais fizeram a maior revolução. Não aceitavam a paixão da filha advogada pelo cliente: “Touro Bundão”. Anote isso, Milena.
– Mas hoje não pensam mais assim não é, tia?
– Perfeitamente, Milena.
– Mas, tia, o trabalho que estou desenvolvendo não se trata da autobiografia de “Touro Bundão”. Está voltado exclusivamente para a arte de enriquecer. No entanto, de apanhados pertinentes, vou desenvolvendo os textos.
– Entendi, Milena.
– Bem, tia, então, numa conversa recente com Alva, afirmou ser testemunha de como surgira a ideia das frutas de cera com sabores típicos.
– Por favor, Milena! Manifesto mais uma vez a minha indignação com o enriquecimento de “Touro Bundão”. Frutas de cera com sabores típicos?! Pelo amor de Deus, Milena! Caso fosse cheiro, seria admissível. Mas, sabor? É tudo muito suspeito, Milena.
– Suspeito como, tia?
– Nem mesmo à sorte atribuo o enriquecimento de “Touro Bundão”, Milena. Frutas de cera com sabor típico?! Comercializa inutilidades, Milena. Moeda antiga falsificada. Serra sem dente. Óculos de lentes cegas. Bolsa vedada. Botinas sem solado. Até livros e revistas comercializa. O que há nesses livros e revistas para se ler, Milena? Apenas toscos pontilhados! São uns idiotas, Milena.
– Nem mesmo a sorte a senhora atribui o sucesso de “Touro Bundão” não é, tia?
– Não, Milena.
– Sei a que se refere, tia.
– Sabe?
– Sei.
– É isso mesmo, Milena. Jamica não é de mentir. Contou que “Touro Bundão”, durante as noites, conversava com alguém. Certa feita, avistou um vulto: de rabo e chifres. Correr e se esconder por trás das folhagens. Aproximou-se e o vulto sumiu.
– O demônio, com quem fizera pacto?
– Eu não sei, Milena.
– As pessoas são perversas, tia. Quando se tem porte de galo-de-briga, mas não briga é touro bundão. Quando enriquece veloz, fez pacto com o demônio. Ora, tia. Quais são os elementos básicos para enriquecer? Trabalho, honestidade e público-alvo.
– É verdade, Milena.
ILUSÃO OU FATO?