DR. DESTINO

O desconhecido, ao aproximar−se de Felipe, 16 anos, escutou, de modo amistoso, que nunca o tinha visto por ali.



          – Mas existo. – replicou o desconhecido, olhando o circuito no qual Felipe se exauria, quando treinava para vencer a sonhada prova ciclística.
          – Já observou a minha bike? – perguntou−lhe Felipe.
          – Naturalmente. – retrucou o desconhecido, observando o veículo de duas rodas.
          – De passeio e não de corrida. Além do mais, competirei com ‘monstros’ do ciclismo regional.
          O desconhecido, perguntando-lhe qual a razão do desejo de competir, sobrepondo reconhecimento de desvantagens:
          – Eu não sei. – respondeu Felipe.
          – E certamente também não sabe que treinar é por demais importante. Entretanto, não é o que determina a vitória.
          – E o que determina a vitória? – quis saber Felipe.
          – Eu não sei… – replicou o desconhecido.
          Felipe sorriu e, conduzindo a bicicleta, passaram a caminhar. No percurso, o desconhecido dizia saber que ele vislumbrava a vitória, porém, também sabia que, sob aquele tormento, outro tormento lhe corroía a mente.
          – Como sabe?
          – A minha idade me dá ao luxo.
          – É o senhor moralista? – sorriu.
          – … Moralista…
          – Se encontrasse uma importância em dinheiro, trataria de realizar seu desejo ou de devolvê-la ao dono? – conversou Felipe.
          – Desejo este que seria adquirir uma bicicleta de corrida?
          – … Sim…
          – A sabedoria diz que se deve escutar o coração. Bem como também diz: “O que é do homem, o bicho não come.”
          – Resumindo: devo consultar a minha moral e arriscar a sorte.
          – Você é inteligente.
          – O dono da importância por mim encontrada é um homem rico. – disse Felipe.
          – Então?
          Felipe, após meditar, assumiu os pedais da bicicleta e o mandou montar na garupa. Minutos depois, batia à porta da residência do dono da importância perdida. O homem, muito ocupado, ao atendê−lo e ouvi−lo, enfatizou que a sua atitude seria mais uma obrigação do que uma gentileza.
          Queixou-se Felipe, de volta à bicicleta:
          – Nem me agradeceu.
          – E agora? – perguntou o amigo.
          – Insinua que não deveria ter devolvido?!
          – Sei que agora fica mais evidente que terá de disputar a prova com uma bicicleta de passeio.
          – …!
          Todavia, para o desconhecido, ali estava ótimo, pois o HOTEL em que se encontrava hospedado estava bem próximo. Despedindo-se e se afastando, Felipe, perguntou ao homem qual era o seu nome.
          – Detestável o meu nome, jovem!
          – Apareça à noite no Bingo Fraterno. – convidou-o Felipe.
          – Lá, à noite, estarei.
          O Bingo Fraterno estava tomado por jovens. Felipe e amigos, com cartelas sobre a mesa, aguardavam pela sorte, a qual ainda não havia passado por ali. O próximo prêmio para sorteio seria uma bicicleta de corrida… Numa brincadeira típica de jovens, as cartelas foram trocadas. O desconhecido de nome detestável compareceu ao evento e Felipe, para a sua felicidade, foi contemplado com o mencionado prêmio.
          O dia da esperada prova havia chegado e Felipe, ao lado de ‘monstros’ do ciclismo regional, pousando na desejada bicicleta apropriada para corrida, procurava, em tempo, entre os expectadores, o seu amigo. Avistando-o, acenou-lhe, retribuindo−lhe o gesto o amigo de nome detestável. Tiro disparado, prova iniciada, e, uma vez finalizada, Felipe subia ao pódio como o vencedor.
          – Dedico a minha vitória ao “senhor incógnita”. – disse Felipe, ao receber o troféu de vencedor e o cheque da premiação.
          Entretanto, horas depois:
          – Já partiu, Felipe. – informou-lhe o idoso, recepcionista do hotel em que o “senhor Incógnita” encontrava-se hospedado.
          – Ele se comprometeu em almoçar comigo. – queixou-se Felipe.
          – O doutor Destino é assim mesmo, meu rapaz. A propósito, pretende disputar outras provas?
          – Sempre e sempre.
          – Vareza o espera?
          – Sim, sim!
          – Você brilhou. Estou convencido de que terá o nome registrado no Livro de Campões.


ILUSÃO OU FATO?