CONVERSAS DOS MORTOS

           Em razão da tranquilidade do lugar no qual passariam as férias, Nia e Mingo, oito e dez anos de idade, respectivamente, agraciados com um pouco mais de liberdade concedida pelos pais, passaram a farrear.
          Aconteceu que, num daqueles dias de divertidas andanças, chegaram a casa com novidades. Segundo os meninos, os mortos conversavam.
          – Que prosa mais tola é essa, meus filhos? – questionou a mãe.
          – É verdade, mamãe, os mortos falam. – afirmou Mingo.
          – E soltam palavrões. – lembrou Nia.
          – E são fuxiqueiro. – disse Mingo.
          – Porra, caralho. Vão…
          A mãe, não gostando nada daquilo, disse:
          – Chega, Nia!
          – Eles dizem que os políticos são desonestos, mamãe!
          – E que as pessoas são assim: crucifixo na mão amostra e tridente nas costas, na mão omissa.
          – Gracinha! – entoou a mãe.
          Mingo, após matar a sede com uma boa quantidade de água fresca, disse:
          – E são vaidosos também, mamãe. Um quer aumentar os peitos.
          – E o outro, a bunda…
          O pai, que se encontrava no quarto, escutando a conversa, ao sair indagou:
          – Por onde andam brincando, meninos? Quero saber.
          – No cemitério, papai. – respondeu Mingo.
          – Cemitério não é parque de diversão.
          – Mas é divertido, papai! – disse Nia.
          – Divertido será o quarto!
          Mas menino é fogo! Não deram ouvidos, e as nebulosas conversas dos mortos, se intensificaram… Foi então que os pais decidiram verificar de perto o que poderia estar acontecendo. Acabaram por constatar que os garotos tinham razão, apesar de ser um cemitério abandonado, o lugar era esplêndido.
          – Que lindo! Parece até com uma foto de Jerusalém que vi! – disse a mãe contemplando o lugar.
          Contemplações, à parte, os pais passaram, com a ajuda dos filhos, a investigar o mistério. Assim, estando todos sob um imenso e elevado arco acústico de mármore, veio logo a indagação do pai dos meninos:
          – É aqui que vocês se acomodam não é, meninos?
          – É, papai! – confirmou Nia.
          – E escutam a conversa dos mortos?
          – Sim!
          Ora, em razão da ingênua convicção, o casal sorriu. À direita, por detrás das folhagens, havia um condomínio residencial. As conversas, ali travadas, eram reproduzidas no arco. Que para os garotos, eram os mortos em pleno diálogo.

 
ILUSÃO OU FATO?